
Como se Nascesse de Ventre Livre
Como se Nascesse de Ventre Livre é uma travessia costurada em silêncio e saudade. Nasce do corpo em deslocamento, do filho que parte e da mãe que espera, das águas que separam Santo Amaro da Purificação e Nova York. É sobre partir, mas também sobre não romper — porque o fio não arrebenta quando é de afeto. E foi com esse fio, entrelaçado pelas mãos de minha mãe, que comecei a contar essa história.
Cada ponto de crochê é um eco, uma memória. Uma resposta delicada à pergunta que minha mãe me fez quando fui embora: “Por que tão longe, meu filho?” Para suportar a espera, ela decidiu costurar. Assim como fez durante os nove meses em que me gestou, ela voltou a cerzir a minha ausência — criando com linha e fé um manto invisível de proteção e presença.
O título deste trabalho — emprestado das cartas de alforria — carrega em si uma contradição que me atravessa: nascer “como se livre fosse”, quando tudo ao redor ainda insiste em prender. Escolhi reverter esse gesto histórico. Se o papel falhou em garantir liberdade, talvez a linha, a agulha e o tempo saibam fazer melhor. Aqui, liberdade é gesto, costura, invocação. Liberdade é imagem bordada com sangue, memória e desejo.
São 38 obras, todas atravessadas por esse fio visceral — das quais apenas duas foram mostradas ao público até agora. As demais permanecem guardadas, como se ainda estivessem sendo gestadas. No tempo certo, elas também nascerão.
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