Como se Nascesse de Ventre Livre



Como se Nascesse de Ventre Livre é uma travessia costurada em silêncio e saudade. Nasce do corpo em deslocamento, do filho que parte e da mãe que espera, das águas que separam Santo Amaro da Purificação e Nova York. É sobre partir, mas também sobre não romper — porque o fio não arrebenta quando é de afeto. E foi com esse fio, entrelaçado pelas mãos de minha mãe, que comecei a contar essa história.
Cada ponto de crochê é um eco, uma memória. Uma resposta delicada à pergunta que minha mãe me fez quando fui embora: “Por que tão longe, meu filho?” Para suportar a espera, ela decidiu costurar. Assim como fez durante os nove meses em que me gestou, ela voltou a cerzir a minha ausência — criando com linha e fé um manto invisível de proteção e presença.
O título deste trabalho — emprestado das cartas de alforria — carrega em si uma contradição que me atravessa: nascer “como se livre fosse”, quando tudo ao redor ainda insiste em prender. Escolhi reverter esse gesto histórico. Se o papel falhou em garantir liberdade, talvez a linha, a agulha e o tempo saibam fazer melhor. Aqui, liberdade é gesto, costura, invocação. Liberdade é imagem bordada com sangue, memória e desejo.
São 38 obras em diversas técnicas como óleo sobre tela, audiovisual e crochê (em coautoria com Katia Boa Morte, mãe do autor), todas atravessadas por esse fio visceral. Até agora, apenas algumas foram expostas ao público no Brasil (Salvador, Bahia, jan., 2025) e em Moçambique (Maputo, jul., 2025). As demais permanecem guardadas, como se ainda estivessem sendo gestadas. No tempo certo, elas também nascerão ao redor do mundo.
TEASER - OBRA AUDIOVISUAL - PERFORMANCE









Afro | Art - Salvador/BA, 2025



